AULA 15. Abstracção como objectivo arquitectónico


Abstrair – do Latim (Abstratiêre):
Separar por meio de uma operação intelectual as qualidades de um objecto para considerá-las isoladamente ou para considerá-lo como objecto na sua pura essência ou noção. (chave da abstracção arquitectónica)

E necessário procurar onde está a essência nas formas arquitectónicas, onde a “operação intelectual” será analisar o objecto de forma abstracta, mas na realidade não o conseguimos separar. Separar sim, objectos diferentes que formam uma unidade.


Dois exemplos de obras:

“Natureza Morta”
Zubarán S.XVII

É uma arte figurativa (objecto representado fielmente).

“Natureza Morta”
Le Corbusier

É uma obra abstracta, onde é necessária a geometria para entender as formas. Perde-se o sentido da realidade.

Note-se que a figura passou de figurativa para abstracta.
O primeiro movimento artístico que tentou pegar numa forma e abstraí-la foi sem dúvida o Cubismo. Sobre o Cubismo sabe-se que, uma realidade fragmentada, move o espectador pela realidade para ver o objecto de diferentes pontos de vista (vê a realidade de forma abstracta). Existe o factor tempo na pintura.

Dois exemplos de obras (ambas do mesmo autor e com o mesmo nome):
“Cabeça” Litográfica
P. Picasso 1945
(Figurativa)

“Cabeça”
P. Picasso 1945
(Abstracta)

Os quadros representam duas formas de entender a realidade, a pintura abstracta não é um janela, mas sim uma superfície plana que procura a essência da pintura e onde existe uma relação entre as formas.

“Composição VIII”
Kandinsky, 1923

Existem relações entre as formas (pontos, linhas, quadrados), formas essas que têm um significado por trás. Pois temos que estar atentos à relação entre as formas do quadro, e não querer saber o que é que Kandinsky quis representar na pintura.

Exemplo de uma obra:

“Estudio Arboles”
1909 – 1915

Começa a compreender a realidade (procura da essência). Mondrian representa as árvores de forma real, e cada vez mais à procura da essência, e vai simplificando com a ajuda da geometria, chegando à abstracção através da composição, da linha ortogonal, do branco, das cores dos elementos, das superfícies das cores e da importância do ritmo.

Exemplo de uma obra:

“Composição VII”
Este quadro representa a procura da essência para entender a realidade (animal). O processo é importante, mas o que realmente é importante é a essência do próprio quadro.

Café Aubette, Strasburg
T. van Doesburg

Neste café, predominam as formas e cores (através das linhas diagonais) para dar uma certa sensação de profundidade.

Casa schroder, Utrecht
Rietveld, G. T. 1924

O projecto é quase uma sobreposição dos elementos mais simples para formar um volume.
Faz-se a pergunta, onde está a essência na arquitectura? (arquitectura figurativa/ arquitectura abstracta). Ao que se responde, que a essência está na capacidade para compor uma composição formal. Isto é, existe uma ordem essencial no que diz respeito à sobreposição de elementos (linha, ponto, plano).

Farnsworth House
Mies Van der Rohe 1945 – 50
(Abstracção)

Quanto mais abstracto uma obra for com o envolvente, mais abstracta o é. Pois, em relação a esta casa Farnsworth, o arquitecto não está a ter em conta as condições do local.
Os elementos perdem a sua importância, e o que importa são as relações de cada elemento para criar uma obra unitária. Houve uma procura da essência na construção através do afastamento do solo. A obra demonstra uma abstracção devido a não ter divisões.


Para fazer um apanhado da matéria, nada melhor que a comparação entre abstracção e figuração, portanto, se na arquitectura abstracta procuramos a essencialidade é para podermos convertê-la em simplicidade através da ideia, função, emoção; as construções perdem o sentido. Na figuração arquitectónica onde a forma como figura é o objectivo, a forma é apenas um gosto qualquer e não existem conteúdos nem significado.