AULA01. O conhecimento da arquitectura


Na primeira aula da disciplina de teoria de arquitectura, para compreender o que é a arquitectura, foram apresentadas algumas definições de arquitectura por parte de vários arquitectos e em seguida criticadas, criando comparações entre as várias definições por parte de diferentes arquitectos, como por exemplo (tradução):

"Primeiramente de tudo, eu devo dizer que a arquitectura não existe. Existe uma obra de arquitectura. Uma obra de arquitectura é uma oferta à arquitectura na esperança de que esta obra se possa tornar uma parte do tesouro da arquitectura. Nem todos os edifícios são arquitectura (...) O programa que se recebe e a tradução arquitectónica devem vir do espírito do homem e não das instruções materiais".
Kahn, Louis I. (conferência no politécnico de Milão, 1967, em ZODIAC, 17)

Para Kahn, a maior parte da arquitectura não faz parte da arquitectura como arte (ou seja, os edifícios normais), pois para a arquitectura ser vista como obra de arte é necessário que provoque emoções.

“A casa deve satisfazer a todos, ao contrário da obra de arte que não tem que agradar a ninguém. A obra de uma arte é um assunto privado do artista. A casa não é. A obra de arte localiza-se no mundo sem que exista exigência alguma que a obrigue a nascer. A casa cobre uma exigência. A obra de arte é revolucionária, a casa é conservadora. (…) Será que a casa não tem nada a ver com a arte e que a arquitectura não deveria estar entre as artes? Assim é. Só uma parte, muito pequena, da arquitectura corresponde ao domínio da arte: o monumento funerário e o comemorativo. Todos os outros, tudo o que tem uma finalidade é o necessário para ser excluído do império da arte”.
Adolf Loos (“Arquitectura”, 1910, em Trotzdem, 1900-1930, 1931)


Loos, faz uma comparação entre a obra de arte e a arquitectura afirmando que a arquitectura não é arte, apenas é um componente que serve para resolver uma série de problemas sociais do ser humano. Apenas fazendo parte do “império da arte” num pequeno momento, para isso terá que ser monumental e provocar sensações aos espectadores. Se a arquitectura tiver qualquer finalidade, já não será vista como arte.


"A arquitectura é a arte para levantar e de decorar os edifícios construídos pelo homem, qualquer que seja o seu destino, de modo que o seu aspecto contribua para a saúde, a força e o prazer de espírito".
John Ruskin (The Seven Lamps of Architecture, 1849)

Ao contrário de Loos, Ruskin afirma que a arquitectura já é arte, independentemente do seu destino ou finalidade, estabelecendo condições, onde o aspecto final da obra terá de comunicar com uma série de emoções, como a “saúde, a força e o prazer de espírito”.

“O que é a arquitectura? Deveria ser definida, como Vitruvio, como a arte de construir? Não. Essa definição envolve um erro terrível. Vitruvio confunde o afecto com a causa. A concepção da obra precede a sua execução. Os nossos antepassados não construíram as suas cabanas depois de terem concebido a sua imagem. Essa criação que constitui a arquitectura é uma produção do espírito por meio da qual podemos definir a arte de produzir e de levar à perfeição qualquer edifício. A arte de construir não é mais que uma arte secundária que me parece conveniente definir como a parte científica da arquitectura” (da introdução).
Étienne-Louis Boullée (Architecture. Essai sur l’art, 1780)

“…o arquitecto será aquele que com um determinado método e um procedimento determinados e dignos de admiração tinha estudado a maneira de projectar na teoria e realizar também todo o trabalho na prática qualquer obra que, a partir do deslocamento dos pesos e da união e da montagem dos corpos, se adapte, de uma forma bela, às necessidades mais próprias dos seres humanos”.
Leon Battista Alberti (De Re Aedificatoria, 1452)

Para Boullée e para Alberti, segundo o seu tratado da arquitectura no renascimento, afirmam que, diferente de VItruvio, a arquitectura necessita de um método prévio antes do próprio resultado final.

"A arquitectura é a arte de construir. Compõe-se de duas partes, a teoria e a prática. A teoria compreende a arte propriamente dita, as regras sugeridas pelo gosto, derivadas da tradição, e a ciência, que se baseia sobre fórmulas constantes e absolutas. A prática é a aplicação da teoria de acordo com as necessidades; é a prática a que une a arte e a ciência à natureza dos materiais, ao clima, aos costumes de uma época, às necessidades de um período".
E. E. Viollet-Le-Duc (Dictionnaire raisonnée …, 1854-1868)

"A arquitectura é uma ciência intelectual e prática dirigida a estabelecer racionalmente o bom uso e as proporções dos artefactos e a conhecer com a experiência da natureza dos materiais que os compõem".
Carlo Lodoli (A. Memmo: Elementi dell’ Architettura Lodoliana, 1786)

"A Arquitectura é uma ciência adornada de muitas outras disciplinas e conhecimentos, pelo julgamento da qual passam as obras das outras artes. É prática e teórica. A prática é uma contínua e expedita frequentação de uso, executada com as mãos, sobre a matéria correspondente ao que se deseja formar. A teórica é a que sabe explicar e demonstrar com a subtileza e leis de proporção, as obras executadas" (del Lib. I, cap. I). "Estes edifícios devem construir-se com atenção à firmeza, comodidade e beleza" (del Lib. I, cap. III).
Marco Vitruvio (De Architectura, I a.C.)

De acordo com as definições, tal como Vitruvio, muitos dos arquitectos dividem a arquitectura em duas partes, uma prática e outra teórica, onde a teórica é a explicação daquilo que foi construído. Afirmando que os três pilares para mais tarde analisar projectos para uma boa arquitectura são a firmeza (firmitas) que consiste em questões práticas e técnicas da construção e na eleição do lugar, a utilidade (utilitas) com a finalidade das construções de serem vividas e habitadas e a beleza (venustas) que consiste na estética e na beleza arquitectónica.